Hoje pela manhã quando tive um momento para abrir meu Instagram (@drademircleitejr), me deparei com um stories de um educador físico falando sobre os riscos do uso de anabolizantes. De uma forma muito clara e sensata, o profissional abordou o assunto deixando claro que as pessoas andam banalizando o risco do uso dessas substâncias para garantir resultados que demorariam muito para se conquistar de forma natural ou para atingir níveis muito acima daqueles que seriam seguros para a natureza de cada um de nós. Assim que achar um outro post dele no meu instagram volto para dar os créditos, mas, enquanto escrevo este texto me falha o nome do profissional.
Na área de cabelos passamos por este problema também. Hoje mesmo recebi um formulário online da European Hair Research Society solicitando para que os membros dessa sociedade ajudassem a pesquisa do médico Paul Farrant do Brighton General Hospital do Reino Unido, sobre a síndrome pós finasterida. Acredito já ter abordado o assunto aqui, uma vez que há quase um ano fui convidado para uma palestra sobre este tema e tive que fazer uma busca bibliográfica sobre o assunto.
Se este não era um tema que me chamava a atenção até pouco menos de um ano atrás, passou a fazer parte de minha vida, uma vez que passei a considerar muito mais os riscos do uso de finasterida após me aprofundar mais no tema.
A síndrome pós finasterida ainda não está muito esclarecida na literatura médica. Há muitos profissionais que insistem em dizer que se trata de uma balela, desmerecendo tal assunto, ainda mais porque a finasterida é a medicação de escolha no tratamento da calvície masculina. Mas o crescente interesse sobre o tema parece fazer com que ele passe a ser uma constante nos eventos de dermatologia e de cabelo mundo afora. Além do risco de diminuição da libido, de diminuição da qualidade de ereção e do volume ejaculado, um risco de desenvolvimento de quadros de ansiedade e/ou depressão que pode ser persistente, mesmo depois de descontinuada a medicação, chamam a atenção de quem escreve sobre esta síndrome. Por persistente, alguns autores citam meses a anos.
Parece assustador, e é. As principais publicações médicas da área dermatológica pouco falam sobre o tema. Mas estudos publicados em revistas de biologia molecular, andrologia, farmacologia e urologia citam tal evento. São poucos os estudos, mas devem servir de base para uma melhor compreensão do risco. De certa forma compreendo que pacientes com ansiedade e depressão podem não associar este quadro ao uso do medicamento, efeitos colaterais até então pouco relacioonados com esta medicação. E, se estiverem sofrendo destes quadros, poderiam procurar outros profissionais como neurologistas e psiquiatras, não trazendo primeiramente estas queixas ao conhecimento de seus dermatologistas ou tricologistas.
A questão é que, uma vez que a medicação pode trazer estes riscos, profissionais prescritores devem estar atentos a possíveis citações desses problemas por seus pacientes. E, caso estejam ocorrendo, a medicação deverá ser descontinuada.
Estando sob tratamento médico, esses pacientes sofrem menos riscos e, naturalmente, serão orientados a descontinuar o uso desse medicamento substituindo o tratamento capilar por outra medicação ou método terapêutico. Além de receber uma melhor orientação sobre os quadros urológicos ou psiquiátricos que poderiam advir do uso da medicação.
Quando o paciente toma finasterida por automedicação, porque leu, ouviu alguém falar ou porque um profissional não médico sugeriu, o risco aumenta. Primeiro porque falta ao usuário da medicação um orientação profissional médica. Em segundo, faltará o alerta do risco. E terceiro, porque faltará ao usuário a orientação sobre como proceder diante da presença do risco. Ainda que se saiba pouco sobre a síndrome pós finasterida, efeitos colaterais em pacientes em uso da finasterida já estão descritos. Ninguém melhor do que o médico para, na medida de sua capacidade clínica, prever o risco ou saber lidar com ele caso ele apareça.
O uso indiscriminado de uma medicação com tantos problemas descritos e a orientação de uso da mesma por profissionais sem qualificação para prescrever, é uma forma de banalização do tratamento capilar. E você leitor, que sofre com queda de cabelo, só estará seguro quando, diante da necessidade de uso de medicamentos, for orientado por um médico.
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