Recentemente assisti a um programa infantil com meu filho que falava sobre as obras de Dali. Dali pintava Rinocerontes, sou um apaixonado por Rinocerontes, como não iria gostar do trabalho de Dali? Comecei a gostar de arte por Dalí. Mas não é sobre RInocerontes que vou falar aqui. É sobre os relógios de Dalí.
Os relógios que derretem na obra de Dali sempre me fazem pensar sobre o tempo, e como a percepção sobre o tempo sofre distorções às vezes. Aquela partida de futebol que nunca acaba de tão chata. Aquela noite com os amigos que nem vemos o tempo passar. Aquela volta de viagem que parece não ter fim, parece que a estrada alongou.
Em minha prática profissional sempre peço paciência aos meus pacientes. Peço que eles tenham tranquilidade e foco no propósito maior do tratamento. Esse propósito pode ser a redução de uma queda capilar, o crescimento dos cabelos que estão em franca recuperação, ou o crescimento longitudinal de um cabelo que foi danificado por uma química. Muitas vezes pedir esse “tempo” para um paciente é como pedir para que ele aceite uma sessão de tortura sem previsão de quando vai acabar. A distorção do tempo entra com toda força aqui e os dias de quem perde cabelos parecem mais longos do que o normal. As semanas se arrastam e os meses duram uma eternidade.
Lamento dizer que não dá para acelerar o tempo, ou o crescimento dos cabelos, para um momento em que o paciente tenha/sinta mais conforto. Mas essa é a nossa realidade do hoje. E mesmo com os milagres que alguns “dizem fazer” em fotos antes e depois nas redes sociais, sei bem o que um bom tratamento pode realizar dentro de um enquadramento de tempo qualquer.
Da mesma forma que não se constrói uma casa de um dia para o outro, não se melhora um cabelo de um dia para o outro. Um cabelo não pode crescer mais que, em média, 1 centímetro por mês e um cabelo que se programa para cair só deixará seu folículo piloso depois de 2 a 4 meses do fator que levou ele a seguir o caminho da soltura do couro cabeludo. Antes disso é pouco provável que outro fio estará crescendo naquele folículo.
A verdade é que não há milagre, e quando digo que meu trabalho com meu paciente é de construção, não falo brincando. Falo porque consigo prever o tempo de melhora com os olhos que a experiência e os anos de estudo me deram. Infelizmente, por não entender isso, a maioria dos pacientes abandona tratamentos, começa a utilizar produtos inadequados, polui seu ambiente interno com informações que só confundem ou com produtos que foram indicados por leigos ou pela internet.
Toda vez que um paciente deixa de se permitir o tempo adequado para sua melhora ele volta passos para trás em seu tratamento e, dependendo da abordagem do profissional com quem está tratando, perde ainda mais tempo em sua recuperação.
Enquanto a maioria dos pacientes não tiver convicção de que o tratamento capilar é lento, progressivo, exige paciência, tranquilidade, foco e dedicação, e tudo isso porque a fisiologia das raízes capilares tem seu tempo e tem de ser respeitada, o tempo sempre será um inimigo do paciente com queda capilar.