Se eu vivesse no tempo de Jesus, meus cabelos não conheceriam xampus espumantes nem cremes sofisticados. Mas, ainda assim, haveria um cuidado especial, moldado pelo sol ardente da Judeia e pelos costumes antigos que davam aos fios não apenas um papel estético, mas também espiritual.
Pela manhã, antes que o calor do deserto se tornasse insuportável, eu poderia buscar um pouco de água em uma jarra de barro e, misturando-a com cinzas finas, preparar uma solução rudimentar para limpar os cabelos. Não havia sabonetes como hoje, mas a combinação de água e cinzas removia a oleosidade e as impurezas acumuladas pela poeira das estradas secas que ligavam Nazaré a Jerusalém.
Para hidratar os fios e proteger o couro cabeludo da secura impiedosa do deserto, o azeite de oliva era um presente divino. Era mais do que um ingrediente para os alimentos – o óleo sagrado ungia reis e profetas, mas também escorria pelos cabelos de quem sabia que a força da vida estava em cuidar do que Deus havia dado. Com as pontas dos dedos, eu massagearia o óleo no couro cabeludo, sentindo a suavidade penetrar os fios, dando-lhes brilho e resistência.
No mercado, entre os tecidos de linho e os temperos exóticos, haveria mulheres vendendo pequenos frascos de nardo e mirra. Perfumes intensos, extraídos com paciência de plantas raras, que não apenas adornavam os cabelos, mas também os protegiam. Talvez fosse o mesmo óleo que Maria derramou sobre os pés de Jesus, um gesto de devoção que ia além da fragrância – um símbolo de amor e reverência.
Os cabelos longos, para uma mulher da época, eram um tesouro que simbolizava feminilidade e honra. Trançados ou cobertos com um véu leve, eram protegidos da poeira e do vento seco que castigava a terra. Para os homens, a barba e os fios naturais eram um reflexo da força e da tradição. Os nazireus, homens que faziam um voto especial de consagração a Deus, jamais cortavam seus cabelos – Sansão era um deles, e sua força residia nos fios que nunca conheceram a lâmina.

Não havia pentes de plástico, mas pentes de madeira ou osso, esculpidos com cuidado, passavam pelos cabelos como um ritual diário. Alguns preferiam massagear o couro cabeludo com ervas aromáticas – tomilho, alecrim, folhas de oliveira –, acreditando que assim manteriam a vitalidade dos fios e afastariam doenças.
No calor das noites estreladas, enquanto o fogo iluminava os lares de pedra, as mulheres penteavam os cabelos umas das outras, trocando histórias e risadas. Era um momento de conexão, um tempo onde os cabelos não eram apenas uma parte do corpo, mas um reflexo da identidade e da vida que cada um levava.
Se eu vivesse no tempo de Jesus, meus cabelos não teriam produtos industrializados, mas teriam o toque do azeite sagrado, o perfume das ervas do campo e a marca de um tempo onde cada fio contava uma história.