Estou preocupado com algumas condutas que tenho visto nos últimos dois a três anos. Pacientes chegam com intercorrências provocadas pelo abuso de alguns profissionais em suas condutas, algumas ousadas de mais, outras em exagero e até mesmo aquelas que são inadequadas a determinadas situações ou que não deveriam ser feitas por pessoas sem creditação para executa-las.
Dentre as intercorrências que mais vejo, as que envolvem as infiltrações de corticosteróides em doenças dos cabelos é, disparado, aquela que mais me incomoda. Muitos colegas executando o procedimento com frequência elevada, com diluição realizada de forma incorreta, números de sessões infindáveis, assim, como excesso de volume injetado por ponto. Há uma forma correta de se fazer, e, só através dela, podemos colher resultados e reduzir o número de complicações. A falta de sucesso após algumas poucas sessões pode significar que o paciente realmente não é responsivo ao método ou que o próprio método está impedindo os bons resultados quando mal utilizado. Uma coisa é certa, corticosteróide em excesso paralisa o crescimento capilar, fora os demais comprometimentos como atrofia cutânea, comprometimento da barreira cutânea, alteração de microbioma e risco de infecção. Fica aqui a ressalva de que a infusão de cortocosteróide é um procedimento médico e muitos profissionais de outras áreas estão se arriscando e executando o procedimento cruzando uma linha perigosa de suas áreas de atuação.
Também tenho recebido pacientes incomodados com profissionais que executam 2 ou 3 técnicas agulhadas em uma única sessão. Um questionável modelo que, naturalmente, expõe a pele do couro cabeludo a uma situação de grande sofrimento inflamatório e elevado estresse oxidativo. Sendo assim, esta escolha poderia impedir que cada um dos métodos entregue seus melhores resultados como ocorre quando utilizados separadamente. Há de se respeitar o tempo que a pele precisa para receber um novo estímulo inflamatório, ainda que ele tenha uma proposta terapêutica. E, até onde sei, não se tem um comparativo que prove que a utilização de mais de 2 métodos numa mesma sessão tenha efeito mais significativo do que os mesmos métodos utilizados separadamente em sessões sequenciais. Por outro lado, aumentam-se as chances de intercorrências. Que fique claro que não sou contra usar diversos métodos em um mesmo paciente, mas é preciso ter certa parcimônia.
Cruzar as linhas de atuação profissional, como já citei acima, é um ato arriscado. Complicações relativas a essas condutas talvez sejam as mais frequentes, infelizmente. Isso pode custar um preço caro para pacientes e para os profissionais que ousam trilhar os passos de profissões que não fazem parte de suas formações. É importante saber se posicionar de forma segura e responsável onde você pode atuar. E, querendo expandir sua atuação, o profissional deve buscar caminhos que sejam seguros para isso através de graduações e especializações que te capacitem para ampliar seu portfólio de serviços.
Cabe também ao paciente conhecer a formação do profissional que está lhe atendendo, assim, poderá cobrar dele uma conduta dentro de sua área de atuação e evitar se expor aos riscos. De uma forma geral, as redes sociais acabam confundindo muito uma grande parte de seus usuários, que se iludem com quem fala bonito ou usa um jaleco bem cortado. Em muitos casos, o falar bonito e o jaleco não significam capacitação para realização de tudo o que alguns profissionais andam fazendo. Então, se você é paciente, fique atento a isso.
Bom senso e respeito à saúde e à integridade de quem sofre de um problema físico e/ou emocional é o mínimo que devemos esperar de bons profissionais. Em conjunto com o tratar devemos pensar em como evitar danos à integridade dos que nos procuram, e, naturalmente, oferecer o melhor que podemos para lhes ajudar. Existem muitos métodos excelentes nos dias atuais, e sua excelência é reforçada pela boa indicação, pelo seu bom uso e, também, pelos resultados que podemos obter, mas, sem nos esquecermos de reduzir ao mínimo os riscos que poderiam causar.