Os procedimentos estéticos para realçar a aparência dos olhos estão em alta, mas será que estamos realmente cientes dos riscos que eles podem trazer à saúde ocular? O estudo conduzido por Masud et al. (2019) faz uma revisão abrangente sobre os efeitos adversos associados às extensões de cílios, tatuagens nas pálpebras e tingimento de cílios, trazendo à tona complicações que muitas vezes são subestimadas tanto por profissionais quanto por pacientes.
A popularização das extensões de cílios tem gerado um aumento significativo de casos de blefarite alérgica – uma inflamação das pálpebras causada pela adesão dos cílios artificiais com colas acrílicas ricas em formaldeído. O estudo aponta que 79% dos pacientes que passaram por esse procedimento desenvolveram reações alérgicas, como coceira, vermelhidão e ressecamento ocular. Além disso, o uso prolongado dessas extensões pode dificultar a higiene dos olhos, favorecendo o acúmulo de bactérias e levando a infecções mais graves, como ceratites bacterianas e conjuntivites tóxicas.
Já no caso da tatuagem das pálpebras, ou blefaropigmentação, o estudo destaca que, apesar de ser uma técnica relativamente segura quando realizada por profissionais qualificados, 56% dos casos analisados apresentaram reações adversas, sendo as reações granulomatosas alérgicas as mais frequentes. Isso ocorre porque a aplicação dos pigmentos envolve uma agulha que penetra a derme, e a composição química das tintas pode desencadear inflamações crônicas, impactando diretamente a lubrificação dos olhos e até mesmo comprometendo a integridade da película lacrimal.
O tingimento de cílios, outra prática cada vez mais comum, também apresenta riscos sérios. O estudo mostrou que 60% das pessoas que realizaram o procedimento desenvolveram dermatite de contato alérgica, muitas vezes causada por substâncias como p-fenilenodiamina e henna negra, ingredientes conhecidos por seu alto potencial alergênico. Além das reações inflamatórias locais, alguns casos resultaram em erosões da córnea e edema das pálpebras, exigindo intervenções médicas para minimizar os danos.
Embora milhões de pessoas realizem esses procedimentos sem problemas aparentes, o número crescente de relatos de complicações indica que mais estudos e regulamentações são necessários. A segurança desses procedimentos depende não apenas da habilidade do profissional, mas também da conscientização do público sobre os riscos envolvidos. O estudo ressalta que é fundamental que oftalmologistas e esteticistas estejam bem informados sobre esses efeitos adversos para orientar melhor seus pacientes e minimizar os impactos na saúde ocular.
No final das contas, a busca por cílios mais volumosos e olhar mais expressivo não pode ser feita às custas da saúde dos olhos. Informar-se sobre os ingredientes utilizados, escolher profissionais qualificados e monitorar possíveis reações são passos essenciais para garantir que a beleza não traga consequências indesejadas.
Referências:
Masud M, Moshirfar M, Shah TJ, Gomez AT, Avila MR, Ronquillo YC. Eyelid Cosmetic Enhancements and Their Associated Ocular Adverse Effects. Med Hypothesis Discov Innov Ophthalmol. 2019;8(2):96-103.
