A cada dia temos percebido mais pacientes com coceira e dor no couro cabeludo. Naturalmente as principais causas destes sintomas podem ser identificadas e tratadas quando associadas a doenças conhecidas como as dermatites e alopecias (ex. liquen plano pilar) ou outros fatores que podem atuar diretamente no couro cabeludo (calor em excesso, químicas ou radiação UV).
Por outro lado, temos alguns pacientes que apresentam coceira e dor no couro cabeludo, mas que não cursam com nenhum tipo de sinal clínico, patologia ou gatilho que os justifique. E quando isto ocorre uma pesquisa ampla sobre eventuais causas precisa ser feita.
Uma possível explicação para algumas dores e coceiras de couro cabeludo pode ser a inflamação neurogênica. Gatilhos da inflamação neurogênica envolvem o estresse. Segundo algumas definições, a inflamação neurogênica se processa pela ativação de determinados nervos periféricos. A atividade destas fibras nervosas promove a liberação de neuropeptídeos (substâncias químicas que promovem respostas em tecidos) que levam ao quadro inflamatório, que conta com aa participação dos mastócitos (células do sistema imunológico). A figura 1 abaixo ilustra este fenômeno.
Vale apontar que a inflamação neurogênica parece estar associada aos mecanismos de formação de diversos problemas capilares como eflúvio telógeno, alopecia areata, liquen plano pilare alopecia fibrosante fronal.
Entender a sintomatologia de couro cabeludo e saber conduzir casos que possam ter maior complexidade é fundamental para a prática clínica e o profissional deve estar atento quando as queixas dos pacientes envolverem dor ou coceira de couro cabeludo.
Posso fazer aqui mais dois adendos importantes de situações que eventualmente surgem na prática clínica. O prurido psicogênico e o delírio de parasitose, dois problemas que envolvem a pele mas que são estudados e tratados pela psiquiatria. No primeiro, sem causas aparentes, a coceira intensa sem causa justificável pode levar à autoflagelação com formação de lesões provocadas pela escoriação (dano causado pela unha ou demais objetos utilizados para coçar a pele) que podem ser severas. No segundo, o paciente tem certeza de que está com quadro de infecção ou infestação de sua pele por microrganismos ou parasitas que provocam coceira ou sensação de mordedura. Como já disse, tratam-se de problemas tratados pela psiquiatria, normalmente após uma triagem do médico dermatologista que pode ajudar com cuidados específicos para os danos cutâneos provocados por pacientes com estes diagnósticos.
Há muito a ser tratado nestes temas, mas a proposta deste texto é fazer um breve relato de possíveis causas destes sinais clínicos para que o profissional possa se lembrar de suas mais comuns causas.