Atendo muito mais mulheres do que homens. Não é uma escolha, é uma situação do mundo atual, como já descrevi em outros textos que falam sobre queda de cabelo feminina datados dos últimos dois meses (quem tiver curiosidade, acompanhe este blog e veja textos sobre o assunto).
A falta de informação, a informação oferecida por meios leigos e a informação confusa acabam sendo fatores que provocam grande prejuízo para o cenário dos cuidados capilares. A mídia, por exemplo, confunde e gera ansiedade na medida que transforma dados de pesquisas de laboratórios em “soluções para a calvície”, como aconteceu pela enésima vez no mês passado ao citar um estudo em animais no qual os pesquisadores perceberam que há uma forma de estímulo ao crescimento capilar que pode ser provocado por uma medicação para osteoporose. Certo que meus colegas receberam, assim como eu, uma enxurrada de perguntas sobre o tal “novo tratamento”. Imagino quão frustrante deve ter sido para a grande maioria dos que sofrem de queda capilar chegar nas clínicas de especialistas e receberem a notícia de que o que se alardeou na mídia foi um estudo de laboratório que, quem sabe, um dia, num futuro que não podemos dizer a data, poderá ser mais uma possibilidade para o tratamento da calvície. Mas é certo que não será “a” solução que a grande maioria dos que sofrem com o problema espera. A propósito, de minha parte, e analisando os meus pouco mais de 20 anos de trabalho médico, prevejo que não estarei aqui para ver “a” solução para a calvície. Quem sabe grandes avanços, como acontecem de tempos em tempos, mas a solução que vá pôr a cabo todos os problemas capilares eu acredito que não verei, ainda que ultrapasse os 90 anos de idade. Talvez esteja errado, espero.
Bem, vamos voltar à temática do texto porque divaguei mais do que escrevi sobre o que eu realmente quero trazer aqui.
Tenho atendido muitas mulheres aflitas com seus cabelos (novamente elas, as mulheres). Aflitas porque não entendem muito bem o porque perdem tantos fios, quando têm eflúvio telógeno (tema de um dos meus últimos textos aqui), e não aceitam ter alopecia androgenética (o que seria algo apavorante, uma vez que toda mulher projeta em si a evolução de calvície que os homens desenvolvem e, em alguns casos, a rarefação mais ou menos significativa que a mãe, as tias, a avó ou pessoas conhecidas desenvolveram, com mais ou menos gravidade). E, que fique claro que cito aqui o eflúvio telógeno e a alopecia androgenética porque são os problemas capilares mais frequentes nas mulheres, ainda que não sejam os únicos.
A questão é que ao chegarem para consulta elas ainda vêm muito confusas quanto a seus quadros capilares. Falta-lhes informação e diagnóstico. No caso, o nome de uma doença para chamarem de suas. Algo que lhes dê a possibilidade de ler, estudar e, quem sabe tranquilizar o coração, ou mesmo, na pior das hipóteses, ficarem amedrontadas de vez.
Nos atendimentos percebo que a grande maioria das que chega a mim com algum diagnóstico parecem estar confusas e preocupadas. Se têm eflúvio telógeno, receiam que quem as avaliou previamente esteja errado e, na verdade, estejam desenvolvendo uma calvície. Quando têm o diagnóstico de calvície, parecem temê-lo tanto que procuram uma segunda opinião para escutar de seus médicos que não tem este problema. Nessas horas pergunto para elas, Que queda capilar você quer ter?
Não ter nenhuma das duas é a resposta mais corrente, mas na resposta identifico onde mora o maior medo da paciente, em especial quando elas optam por uma delas como segunda opção, ou seja, em primeiro lugar gostariam de não ter queda capilar, mas, se tivessem que escolher, escolheriam aquela que menos as aflige.
Interessante perceber que uma delas, a alopecia androgenética, tem perda mais lenta, gradativa, às vezes quase imperceptível, vai consumindo o volume capilar aos poucos, e tem uma resposta ao tratamento limitada, exigindo cuidados para a vida toda. Já o eflúvio provoca uma perda mais aflitiva, volumosa, com redução rápida dos cabelos e a sensação de falta de controle do processo de queda. Esta última tem um tratamento efetivo, com recuperação total dos cabelos e não necessita cuidados após solucionada. A questão que fica é que ambas têm tratamento. E podem ser de reversão total (eflúvio), ou parcial (androgenética), e isso é algo positivo, seja qual for o diagnóstico.
Independente do medo, das aflições e de todo o desconforto que uma queda de cabelo pode provocar, o que tem que ficar claro é que em nenhum dos quadros se deve negligenciar uma queda de cabelo. Quanto antes iniciado um tratamento melhor. E, independente da queda “preferida” da paciente, hoje temos condições de avaliar, diagnosticar e propor cuidados que ficam cada vez mais efetivos, em especial se a paciente é disciplinada e segue as orientações profissionais.