Ao longo dos anos de vivência médica, uma das observações que faço em uma grande porcentagem de pacientes está relacionada ao fato de que quadros de queda capilar normalmente causam desconforto importante nos pacientes por serem algo de difícil controle.
Fazendo uma analogia com problemas de saúde variados, muitas vezes até mais graves do ponto de vista do comprometimento de vida do paciente, a queda de cabelo é uma manifestação chata. O termo chata parece estranho, mas vamos fazer uma analogia simples com algumas manifestações que, de alguma forma podem até ser rotina em Pronto Atendimentos do mundo todo e que clinicamente são mais graves que as quedas de cabelo: arritmias, hipertensão arterial, enxaquecas, quadros de urticária ou angioedemas alérgicos, refluxos gastroesofágicos ou dores gástricas, todas as manifestações citadas, salvo em casos de comprometimento severo da saúde, podem, em sua maioria, ser amenizadas ou solucionadas em algumas horas após o orientação terapêutica de um médico.
A queda de cabelos é uma exceção e às vezes me pergunto se o fato de não ser responsiva a medidas emergenciais não torna os quadros capilares um tanto didáticos, apesar de serem chatos em virtude de toda ansiedade que geram por terem uma solução mais demorada, lenta mesmo para se resolver em sua grande maioria.
O leitor poderá me se questionar a questão “didática” que eu apresento no parágrafo acima, e vou explicar de duas formas. A primeira é afirmando que num mundo acelerado e exigente no que diz respeito ao imediatismo de resultados, a queda capilar vem nos lembrar de que o corpo, como parte integrante da natureza, precisa de respeito. Respeito pois tem sua fisiologia e suas respostas frente a alguns problemas de saúde podem exigir tempo. Um tempo que o mundo atual muitas vezes não nos permite mais. Ainda assim, se os pacientes não respeitarem este tempo estarão deixando de respeitar a si mesmos e à sua própria natureza. Cabe, então, aos problemas capilares ensinar aos pacientes com a queda de cabelos que na medida que se colocam frente a um médico como pacientes, deverão se comportar pacientemente à espera de resultados. Não precisam ser passivos, porém, ainda assim, pacientes, certos de que os resultados não aparecerão da noite para o dia.
A segunda forma de discutir sobre a questão didática da queda capilar será apresentada não com minhas palavras, mas através das palavras do psiquiatra e psicólogo Carl Gustav Jung. Palavras estas que foram compiladas do livro Presente e Futuro e que se apresentam no texto da seguinte forma:

Jung descreve, na medida que lemos este trecho de seus estudos, aquilo que nos tornamos. Acreditamos que temos o controle de tudo à nossa volta na medida que o progresso e as facilidades da vida nos foram e são apresentadas. Apesar disto, estas mesmas facilidades e progressos nos escravizaram e nos tornaram vítimas de um mundo que nos faz acreditar que somos capazes desse controle. Uma ilusão das maiores que só nos trará ansiedade e decepções se não entendermos que, diante de tantas circunstâncias que a vida nos apresenta, encontraremos constantes e variáveis. As constantes não nos trarão muitas surpresas, mas as variáveis, estas sim, tornarão nossas vidas imprevisíveis e nos farão entender que, até mesmo uma simples queda.