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Queda de cabelo induzida por medicamentos de uso em neurologia e psiquiatria

Queda de cabelo induzida por medicamentos de uso em neurologia e psiquiatria

Pouca gente sabe, mas a epiderme, estrutura da pele que dá origem a uma parte da raiz do cabelo (folículo piloso), tem a mesma origem embrionária do sistema nervoso. Isto torna a ligação entre estas duas estruturas muito próxima. Mais do que isso, há uma comprovação anatômica de que o folículo piloso é a estrutura da pele onde mais se concentram terminações nervosas. Logo, podemos afirmar que cabelos e o sistema nervoso são muito íntimos e se relacionam todo o tempo.

Podemos afirmar que não é raro encontrar nas bulas de medicamentos a informação de que esses podem causar queda capilar. A apresentação da queda capilar em virtude do uso de fármacos deve ser cogitada pelo médico sempre que outras causas de queda já foram descartadas e os sinais clínicos sejam indicativos de que ela pode estar se originando devido ao uso do(s) medicamento(s).

Em virtude de suas inter-relações anatômicas e funcionais, é esperado que medicações que atuam no sistema nervoso possam interferir de alguma forma no comportamento dos folículos pilosos. Esta situação acaba sendo sempre relatada nas bulas de medicamentos de uso na neurologia e psiquiatria na forma de um risco de alopecia como possível efeito colateral do medicamento.

Falo em possível porque nem todo efeito colateral descrito em bula acontece de fato. Se todos eles ocorressem seria muito mais perigoso tomar medicamentos do que deixar de tomá-los, visto que muitas doenças seriam menos maléficas do que a própria droga que é utilizada para tratá-las.
Pesquisando o assunto, encontrei um estudo na publicação Annals of Clinical Psychiatry que esclarece um pouco o uso de fármacos da área da neuropsiquiatria e o risco de eles causarem queda capilar.
Os autores do estudo concluem que:

– As quedas capilares causadas por estes medicamentos são ocasionais. A maioria dos antidepressivos e estabilizadores de humor pode (o que não significa que vai) levar a queda de cabelos.
– Alguns medicamentos antipsicóticos e redutores da ansiedade também estão associados ao problema. Pacientes que usam lítio e desenvolvem hipotireoidismo por conta do uso desta medicação podem ter queda de cabelos. Em termos estatísticos, o lítio pode levar 12 a 19% dos pacientes a desenvolverem queda de cabelos após uso por longos períodos de tempo.

– O ácido valproico e/ou divalproex pode causar queda em mais de 12% dos pacientes que o utiliza sendo este efeito colateral algo relacionado à dose utilizada (quanto maior a dose maior o risco – vejam bem que não foi dito que é maior a queda). O valproato costuma provocar queda em mais de 28% dos pacientes que usam doses elevadas.

– A queda capilar induzida pela carbamazepina ficou com índices abaixo de 6%.
– Outros estabilizadores de humor pouco contribuíram para o aparecimento da queda capilar.
– Antidepressivos tricíclicos, maprotileno, trazodona e os antidepressivos mais modernos raramente causam queda capilar. Outras medicações como haloperidol, olanzepina, risperidona, clonazepan e buspirona também foram associadas a poucos casos do problema.

– A descontinuação do uso dos medicamentos citados ou a redução de suas doses normalmente levam ao retorno do crescimento capilar.

Que fique claro que não é porque o paciente está em uso do medicamento e apresenta queda capilar que seu uso é a causa do problema. O médico deve ter a sensibilidade de diagnosticar o verdadeiro papel da droga na queda capilar, e só conseguirá fazer isto mediante uma boa história clínica e avaliações físicas associadas a exames complementares.

Descontinuar o uso do medicamento porque se suspeita de que ele esteja causando queda capilar só deverá ser feito sob orientação médica. A saúde do paciente vem em primeiro lugar e normalmente o especialista em cabelos, quando suspeita de que a medicação está motivando a queda, deve conversar com o paciente e com seu médico (psiquiatra ou neurologista), para que a decisão de substituição ou mudança de dose seja tomada.

Por fim, reconhecer possíveis causas medicamentosas de queda capilar é de suma importância para que o profissional possa elaborar um diagnóstico preciso e orientar melhor seu paciente. Se pudermos aliar um bom tratamento a um mínimo de efeitos colaterais, a saúde do paciente sempre sairá ganhando.

Referências:
Mercke Y, Sheng H, Khan T, Lippmann S. Hair Loss in Psychopharmacology. Annals of Clinical Psychiatry. 200;12(1):35-42.

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