Hokusai (1760-1849), Hiroshige (1797-1858), Tsukioka Yoshitoshi (1839-1892) e tantos outros artistas japoneses deixaram como legado um conjunto de trabalhos que faziam referência ao mar e ao movimento das ondas.
Acredito que esses trabalhos são os que mais me chamam a atenção quando faço pesquisas sobre arte japonesa. Nesse blog, há alguns meses atrás, publiquei dois posts sobre um dos trabalhos de Hiroshige conhecido como: Chuvasca repentina na ponte Shin-Ohashi e Atake, que consta na coleção de obras intitulada: One hundred famous views of Edo. (Para ver os textos sobre Chuvasca repentina clique nos links: Hiroshige – e um pouco de medicina, Hiroshige – um olhar em tricologia ). Apesar de Chuvasca repentina ser o que mais gosto, as obras japonesas que retratam o mar, suas ondas, tormentas ou dificuldades de navegação são as que mais me impressionam.
O movimento da água, retratado na forma de linhas contínuas acompanhando a formação de ondas, movimentos espirais ou ritmo das mares. Os tons variados de azul, ou do preto acinzentado (em especial numa das obras de Yoshitoshi que consta como ilustração nesse post), que colaboram com a leitura do movimento das ondas ou que conferem profundidade para a imagem retratada. As cristas das ondas com suas espumas alvas e desorientadas. O spray de água que surge a partir delas.
Gosto muito das imagens que tem barcos. Gente remando, navegando ou sendo jogadas de um lado para outro à mercê do movimento do mar. Sempre parecendo revolto, sempre mostrando sua força e liberdade. Ao mesmo tempo que colocam em situação de desconforto a quem decide enfrenta-lo.
Essa ideia de imprevisibilidade causada pelo mar nas obras desses mestres da arte japonesa me hipnotizam. Me perco nelas, tal qual devem se sentir perdidos esses marinheiros ou pessoas comum nesse mar de ondas agitadas.
Um paralelo com a vida pode ser pensado. Estamos normalmente envoltos em situações que costumam ser imprevisíveis. O aleatório é parte de nossas vidas e interfere de forma intensa em tudo o que fazemos.
Entendo que muitas vezes não conseguimos estar racionalmente e emocionalmente preparados para as situações que nos chegam. Porém, a própria situação é capaz de nos preparar, e nos transformar.
A beleza do aleatório e das turbulências da vida está em acreditar que há algo pedagógico em todas as situações. Sem entrar no mérito religioso, que diz que deus não nos dá um fardo maior do que podemos carregar, acredito que todas as situações que nos surgem vem para testar nossa capacidade de enfrentamento e superação. Gosto de pensar assim, gosto dessa forma de olhar. E creio que por isso mesmo essas imagens dos mares revoltos dos japoneses tanto me encantam. Pois há nelas um mistério naquilo que poderá vir a cada nova onda, a cada novo movimento desse mar, assim como sentimos com a vida. E mesmo que sejamos jogados de um lado para outro por ela, e levados ao extremo, somos dotados da capacidade e do intento de desejar superar, de lutar pelo mar calmo, pela bonança, pela vida.