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REFLEXÕES SOBRE LIVROS DE CITAÇÕES (A.K.A COMO SERIA BOM SE AS COISAS FOSSEM MAIS FÁCEIS)

Imagem relacionadaFui tomar um café numa livraria
ontem e comprei um livro de citações. Do Eduardo Giannetti. Genial. Grandes pensadores,
escritores e personalidades naqueles que parecem ser seus momentos de
inspiração maior. Sempre gostei de livros de citações.
Meu primeiro livro de citações
foi A Bíblia do Caos, do Millôr Fernandes. Lembro-me de duas frases que me
marcaram e que alí estão, uma falando dos chatos: Quando um chato vai embora, que presença de espírito. A outra, não
me lembro ao certo em que categoria constava, mas era assim: Não é nada não é nada, não é nada. Adoro
esta frase.
Em algum momento, em algum
caderno, também coletei frases. Meu caderno de citações tinha autores que
inspiraram minha adolescência e começo da idade adulta. Místicos, loucos,
romancistas, psicólogos, médicos. Minha homenagem a um autor era a transcrição para
aquele caderno de algo que havia me marcado em um de seus livros. Lições de
vida que nos tocam, como se o autor ao escrever estivesse falando
especificamente para nós. Em algum lugar qualquer, que pode ser o lixo ou um
caderno com folhas de papel recicladas (que certamente não está em minha posse),
devem estar as frases que coletei. Uma pena, gostaria de voltar a elas e
entender o que ainda me inspira, o que me estranha, o que continua igual, o que
mudou em mim.
J.J. Benitez, autor da série
Operação Cavalo de Tróia, com seus 9 livros, um de meus autores de ficção
preferidos desde sempre, foi um dos que publicou um livro com citações. A
coletânea de Benitez tinha duas peculiaridades: 1- As citações eram de seus próprios
livros (Operação Cavalo de Troia volumes 1 a 6). 2- E eram falas de um
personagem especial da Cavalo de Troia, Jesus. No volume 6 da série está uma frase
do Jesus de Benitez que diz algo mais ou menos assim: O ser humano é condenado a ser feliz. Acho linda esta frase. Das
milhares de páginas dos 9 livros da série a única que eu lembro de cor. E olha
que o Jesus de Benitez fala bonito. Impressiona muito mais, e melhor, do que o
de Lucas, Mateus, João e Marcos. Quem duvidar, deve conferir.
Tem uma frase que encontrei em
algum lugar. Certo de que não a li em nenhum livro. Livro do autor, no caso, nunca
lí livros desse autor. Posso ter lido como citação por um outro autor. Em uma das
redes sociais. Quem sabe até em alguma aula ou palestra que tenha assistido nos
últimos anos. A verdade é que agora ela está em algumas de minhas aulas. E sempre
me lembro dela no meu dia a dia. Em todas as minhas relações sociais ela volta.
Ora como indignação ora como preocupação. A frase é do psicanalista Jacques
Lacan: Você pode saber o que disse, mas
nunca o que o outro escutou.
Uma verdade fundamental. Escutamos o que queremos
ouvir, da forma que queremos ouvir, com a interpretação que o momento ou os
complexos nos fazem atribuir. A beleza que pode existir nessa interpretação é proporcional
à desgraça que pode advir dela.
Gostaria de transcrever aqui uma citação
tirada do livro do Giannetti. Citação do Fernando Pessoa.  Como é
por dentro outra pessoa? Quem é que o saberá sonhar? A alma de outrem é outro
universo, com que não há comunicação possível, com que não há verdadeiro
entendimento. Nada sabemos da alma senão da nossa: as dos outros são olhares,
são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo.
Quero terminar dizendo que, ainda
que sejamos condenados a ser felizes, há muita gente chata no mundo que não se
manca e que parece que nasceu para ferrar com a nossa felicidade. Que não
chegam nem perto de compreender o que dissemos, fazendo o favor de distorcer
tudo de uma forma que parece que o mundo virou de ponta cabeça. Nesses casos,
não é nada, é tudo. E tudo, não é nada. Com esses, não á apenas com a alma que
não conseguimos comunicar, é com o ser todo, pois, nesses casos, são seres que
parecem vir de outro universo.  
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