Siga-nos nas redes sociais!

Reposição de Testosterona na Menopausa: Risco ou Benefício para os Cabelos?

A menopausa é um período de grandes transformações hormonais, marcado pela queda nos níveis de estrogênio e progesterona, o que impacta diversas funções do organismo, incluindo a saúde capilar. Muitas mulheres recorrem à reposição de testosterona para aliviar sintomas como fadiga, perda de libido e mudanças no humor. No entanto, essa terapia levanta uma dúvida importante: a testosterona pode agravar ou até mesmo desencadear a queda de cabelo em mulheres com predisposição à alopecia androgenética? A literatura científica apresenta um debate interessante, com estudos apontando para diferentes direções.

A alopecia androgenética feminina (FAGA) é uma condição multifatorial, com forte componente genético e hormonal. Os andrógenos, especialmente a di-hidrotestosterona (DHT), são frequentemente apontados como responsáveis pela miniaturização progressiva dos folículos capilares em mulheres predispostas. O estudo de Kalantaridou & Calis (2006) sugere que a administração de testosterona pode desencadear efeitos colaterais como acne, crescimento excessivo de pelos faciais e, em alguns casos, afinamento capilar, especialmente em mulheres sensíveis a andrógenos. O British Menopause Society (2022) reforça que, apesar dos benefícios da terapia androgênica para a função sexual e o bem-estar geral, os efeitos colaterais mais comuns incluem hipertricose e acne, enquanto a alopecia é descrita como rara. No entanto, a individualidade biológica das pacientes pode levar a diferentes respostas ao tratamento. O estudo de Davis (1999) alerta que os níveis hormonais devem ser monitorados de perto para evitar efeitos adversos, uma vez que doses elevadas podem levar a um perfil hormonal mais masculino, aumentando o risco de queda de cabelo.

O estudo de Mirmirani (2011) oferece um olhar mais abrangente sobre a questão. Embora reconheça que os andrógenos podem estar envolvidos na miniaturização dos fios em mulheres predispostas, o artigo destaca que as mudanças hormonais da menopausa levam a uma redução no crescimento capilar e no diâmetro dos fios, além de uma menor porcentagem de cabelos na fase anágena. No entanto, a densidade capilar parece estar mais relacionada à idade cronológica do que diretamente às variações hormonais desse período. Ou seja, embora a influência androgênica seja relevante em certos casos, a queda capilar na menopausa pode ser impulsionada por múltiplos fatores, e não apenas pela ação da testosterona.

Curiosamente, alguns estudos contradizem a crença de que a testosterona agrava a alopecia em mulheres. A pesquisa de Glaser et al. (2011), publicada no British Journal of Dermatology, investigou o impacto da reposição androgênica em 285 mulheres e revelou que nenhuma delas relatou piora na queda capilar durante o tratamento. Pelo contrário, 63% das pacientes que já apresentavam afinamento dos fios antes da terapia observaram melhora no crescimento capilar após a administração de testosterona. O estudo de Davis (2000) argumenta que a administração controlada de testosterona pode melhorar sintomas como perda de massa muscular e fadiga, sem necessariamente impactar negativamente a saúde capilar.

Outro ponto interessante é a relação entre testosterona e metabolismo de estrogênios. Em algumas mulheres, a conversão de testosterona em estrogênio via aromatase pode resultar em efeitos benéficos para o couro cabeludo, retardando o processo de afinamento dos fios. Esse aspecto, no entanto, depende de variáveis individuais, como genética e metabolismo hormonal.

A análise dos estudos revela que a reposição de testosterona na menopausa não é um fator determinante para a alopecia em todas as mulheres, mas pode representar um risco para aquelas com predisposição genética. A literatura sugere que os efeitos variam conforme a dose utilizada, a via de administração e a sensibilidade individual aos andrógenos. Estudos como o de Glaser et al. (2011) trazem um contraponto importante ao demonstrar que a terapia pode, em alguns casos, até favorecer o crescimento capilar. Por outro lado, pesquisas como as de Mirmirani (2011) e Kalantaridou & Calis (2006) reforçam que algumas mulheres podem experimentar queda de cabelo devido ao impacto androgênico, mas que essa não é a única variável envolvida no processo.

Diante disso, a decisão sobre iniciar ou não a reposição de testosterona deve ser feita com base em uma avaliação individualizada, levando em conta o histórico capilar da paciente, exames laboratoriais detalhados e um acompanhamento rigoroso. O equilíbrio entre benefícios e potenciais efeitos adversos é essencial para garantir uma abordagem segura e eficaz.

Referências

  • Glaser RL, Dimitrakakis C, Messenger AG. Improvement in scalp hair growth in androgen-deficient women treated with testosterone: a questionnaire study. British Journal of Dermatology, 2011.
  • Davis SR. Androgen treatment in women. The Medical Journal of Australia, 1999.
  • Mirmirani P. Hormonal changes in menopause: do they contribute to a ‘midlife hair crisis’ in women?. British Journal of Dermatology, 2011.
  • British Menopause Society. Testosterone replacement in menopause. 2022.
  • Kalantaridou SN, Calis KA. Testosterone Therapy in Premenopausal Women. Seminars in Reproductive Medicine, 2006.
  • Davis SR. Testosterone is worth a tuft of hair. Journal of the British Menopause Society, 2000.
+ Mais posts