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SERÁ QUE OS CHAPÉUS SÃO MESMO CULPADOS PELO APARECIMENTO DA CALVÍCIE?

Chapéus há anos são apresentados como possíveis causadores de calvície ou perda capilar. Muitos pacientes que chegam em minha clínica, em especial os homens, relatam o uso por muito tempo do boné em suas fases de adolescência e trazem essa informação na certeza de que este hábito contribuiu ou foi uma causa efetiva de aparecimento do problema. Mas será que podemos culpar os chapéus pela queda capilar presente em boa parte dos pacientes calvos?
Se pensarmos estatisticamente podemos afirmar que não, visto que vemos diariamente muita gente que não tem histórico de uso de chapéu e ainda assim desenvolvem a calvície. Mas de onde vem este argumento de que o chapéu é um dos culpados pelo problema? Certamente desde muito tempo atrás. E lendo o livro Baldness – A Social History (sobre o qual já comentei aqui em um post no final de 2011), encontrei informações de grande relevância sobre o Mito do Chapéu. Vamos então ver de onde vem essa antiga e importante informação que peocupa a tantos calvos até os dias de hoje.
Em 1868 em uma revista de circulação médica o Dr A.F.A. King afirmou que o uso de chapéu era o grande culpado pela calvície. Sua explicação para o surgimento do problema em virtude do uso do chapéu vinha do comprometimento da circulação da cabeça que ficava reduzido pela compressão exercida pelo chapéu nas artérias que nutrem o couro cabeludo. 
O Dr King também foi o primeiro a sugerir uma solução para o problema que estava relacionada à confecção dos chapéus. Estes deveriam provocar uma menor pressão do couro cabeludo na área onde passavam os vasos sanguíneos mais importantes para a nutrição do couro cabeludo.
Pode até ser que a ideia do chapéu ser uma causa de calvície tenha surgido antes, mas foi o Dr King quem postulou isso primeiramente em uma publicação científica. Após seu trabalho, muitos outros médicos e pesquisadores aderiram ao argumento e reforçaram o mesmo uma vez que as regiões laterais e dorsal do couro cabeludo normalmente não são cobertas pelos chapéus e, consequentemente, não sofrem a compressão que faz com que os cabelos caiam. 
No final do século 19, alguns pesquisadores afirmavam a presença de um fator hereditário e utilizavam isso como uma forma de prevenir a calvície em descendentes de calvos, porém na grande maioria das vezes ainda manifestavam uma importância relativamente alta do uso do chapéu como desencadeador do processo. A orientação era: filhos de calvos devem evitar o uso de chapéus sob o risco de desenvolverem a calvície. 
O uso de chapéus para alguns provocava maior sudorese e calor na área coberta, o que também era uma motivação para se acreditar na calvície provocada pelo uso desse acessório. Afinal, diziam os especialistas, por que a região da barba, sempre descoberta, não desenvolvia nenhum tipo de rarefação enquanto que o topo da cabeça sim?
O formato da cabeça também tinha relativa importância. Uma vez que os chapéus tinham uma forma e só sofriam mudanças no que diz respeito ao tamanho, uma vez escolhido o tamanho ideal de chapéu para determinada cabeça a eventual compressão dos vasos sanguíneos provocava calvície em muitos, porém deixava outros ilesos. A explicação estava no formato da cabeça. Alguns pacientes, com a cabeça mais fina e, consequentemente, menos susceptível à compressão dos vasos e, nesse caso o paciente estava livre do risco de perder os cabelos pelo uso do chapéu. 
Foi no final da 2a. Guerra Mundial que as descobertas sobre a verdadeira motivação da calvície foram sendo definidas pelos pesquisadores e, portanto, o chapéu deixava de ser culpado pelo problema. Isso ficou evidentemente explícito em 1946 em uma publicação no The New York Times onde foi publicado um artigo que afirmava que chapéus não tinham nada a ver com a perda de cabelos.
Deste momento para frente as elucidações sobre a queda capilar foram sendo cada vez melhor entendida pelos pesquisadores e os chapéus deixaram de serem apontados como culpados como ocorria anteriormente a essa data.
Ainda assim, parece existir no inconsciente coletivo da população como um todo uma preocupação muito grande com o uso do chapéu em pacientes com risco de calvície ou em famílias em que os pais e avós temem pela perda de cabelos por parte de filhos e netos. 
Na minha avaliação médica entendo que o uso do chapéu pode sim agravar eventuais dermatites ou quadros de caspa que evoluem de uma seborréia preexistente em virtude do aumento do calor, produção de oleosidade e humidade que eles acabam induzindo em quem usa chapéu constantemente. O mesmo vale para capacetes de motos.  Quando agravam dermatites podem provocar quedas de cabelo dermatite dependentes que, de certa forma, quando presente, agravam a calvície do paciente. Porém essa predisposição à calvície ou a própria calvície em evolução devem estar presentes no couro cabeludo do paciente para que a dermatite induzida pelo uso do chapéu venham a agrava-la. Do contrário, o chapéu não tem realmente nenhum motivo para causar a calvície. 
Uma dica que dou a meus pacientes é manter sempre o couro cabeludo bem limpo e higienizado e os chapéus (bonés), ou capacetes também sempre limpos para evitar qualquer tipo de problema. No mais, todo e qualquer tipo de motivação para o aparecimento da calvície, como já se sabe, tem origem genética e hormonal.
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