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SEU MÉDICO DISSE QUE SUA QUEDA DE CABELO É CAUSADA POR ESTRESSE, POR QUE VOCÊ NÃO VALORIZA ISSO?

Tenho estudado muito a relação do estresse com a queda capilar. Nesses últimos ano e meio mais ainda, desde que me matriculei no mestrado na PUC-SP, no Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar, sob a orientação da Professora Dra. Denise Gimenez Ramos. 
Apesar de estar estudando uma alopecia específica, não é possível reduzir os estudos que falam sobre a conexão estresse-cabelos sem olhar para o tema de forma ampla e com muita curiosidade. Recentemente, lendo um capítulo do livro Neuroendocrinology of Stress, organizado pelos pesquisadores Russel e Shipston, me deparei com mecanismos pelos quais o estresse impacta no nosso corpo sobre os quais nunca havia ouvido falar. E imaginem que li apenas um capítulo que escolhi ler de forma aleatória, presente em uma obra da literatura científica ampla e com uma complexidade incrível. os mecanismos de atuação do estresse em nosso corpo são, de verdade, um universo muito mais amplo e perigoso do que imaginamos. 
Por isso, antes de seguir, gostaria de falar um pouco sobre o estresse em si. Hoje percebemos um cenário que relativiza o estresse cada vez mais. Há uns dois anos lí um livro bem interessante sobre aquilo que é chamada de A Patologia da Normalidade. De autoria de Roberto Crema e Jean-Yves Leloup, o livro é um compilado de palestras deste dois autores sobre a Normose, uma forma de viver o mundo em que desvalorizamos o que deveríamos dar maior importância porque somos recorrentemente agredidos por estresses da vida que acabam nos dessensibilizando, pelo menos na forma racional de encarar essas agressões, que não sentimos o quanto elas realmente nos afetam no âmbito físico e emocional. Crimes, tragédias, sexualidade, comportamentos agressivos são todos banalizados, assim como certos comportamentos diante do cenário geral da vida de todos nós. Trabalho excessivo, poucas horas de sono, alimentação inadequada, falta de tempo para o lazer, por exemplo. Só para dar um exemplo, tenho pacientes que passam dias sem dormir por conta do trabalho e que, como todos os demais parceiros de empresa também o fazem, consideram isso normal. Um outro caso poderia ser o daqueles que vivem grande intensidade de tensão ao longo do dia de trabalho todos os dias da semana, como muitos pacientes que estão no mercado financeiro. Interessante perceber que quando são abordados sobre nível de estresse, esses paciente são aqueles que mais desvalorizam o estilo de vida que os tomou frente aos seus quadros de perda capilar. 
Hoje recebi uma paciente que me disse que é muito sensível aos estresses da vida. Pensei comigo, até que enfim alguém consciente. Podemos ser resilientes, tolerar temporariamente bem os estresses da vida por um tempo, mas uma hora a coisa pega e fica feia. Pode até ser que o estresse não acompanhe queda capilar, mas pode vir acompanhado de problemas em outros órgãos e sistemas do nosso corpo. Na forma de hipertensão arterial, asma, alergias, doenças auto-imunes, gastrite, refluxo gastroesofágico, ou qualquer outra patologia. 
Os cabelos são, de fato, alvos do estresse. Por isso é possível sim perder cabelos por causa do estresse. E não precisa ser um estresse enorme, pode ser um conjunto de pequenos estresses da vida que na somatória produzirão um sinal clínico. Aqui, em nossa clínica, seria a queda de cabelos ou as dermatites de couro cabeludo. Quando isso acontece, tenho que estar atento a buscar, junto com o paciente, o motivo do problema e, em sendo estresse, tomar condutas e abordagens que não são apenas as de pedir para o paciente relaxar, mas sim de uma atuação clínica incisiva contra a bioquímica do estresse que se forma em nosso corpo e sobre a qual estudo cada vez mais.
Referências:
Neuroendocrinology of Stress. John A. Russell , Michael J. Shipston. Wiley – Blackwell. 2015.
Normose. A Patologia da Normalidade – Roberto Crema , Jean-Yves Leloup , Pierre Weil. Vozes, 2001.
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