O transplante capilar é um procedimento amplamente realizado para tratar a alopecia androgenética, oferecendo uma solução definitiva para a perda de cabelo em muitas pessoas. No entanto, este estudo publicado no Skin Appendage Disorders levanta uma questão importante: pacientes submetidos ao transplante capilar podem apresentar achados histopatológicos semelhantes aos do líquen plano pilar (LPP), uma forma de alopecia cicatricial inflamatória. Esse dado é particularmente relevante, pois pode levar a um diagnóstico equivocado e, consequentemente, a tratamentos desnecessários e potencialmente prejudiciais.
Foram analisadas biópsias de oito pacientes que realizaram transplante capilar sem complicações clínicas e que não apresentavam sinais prévios de LPP. As biópsias foram coletadas entre 6 e 12 meses após o procedimento e comparadas com amostras da área não transplantada do mesmo paciente. O objetivo era investigar a presença de inflamação linfocítica perifolicular e fibrose, dois marcadores clássicos do líquen plano pilar.
Os resultados mostraram que 50% dos pacientes apresentaram infiltrado linfocítico moderado a intenso, e 75% tinham fibrose significativa na área transplantada, enquanto essas mesmas características não foram observadas na área de controle. Esses achados levantam um questionamento essencial: será que a resposta inflamatória induzida pelo próprio transplante pode mimetizar os sinais histológicos do líquen plano pilar? Se sim, isso pode significar que biópsias feitas precocemente após o procedimento podem levar a diagnósticos errôneos e, possivelmente, ao uso de tratamentos imunossupressores desnecessários.
O estudo sugere que, na ausência de sintomas clínicos como coceira intensa, queimação ou queda de cabelos além do esperado, a presença de inflamação e fibrose na histologia não deve ser automaticamente interpretada como líquen plano pilar. Em vez disso, esses achados podem ser parte do processo normal de cicatrização do transplante capilar.
Para médicos e tricologistas, essa descoberta reforça a necessidade de um olhar crítico ao avaliar complicações pós-transplante. Antes de iniciar qualquer tratamento para LPP, deve-se considerar o tempo decorrido desde a cirurgia, a presença ou ausência de sintomas clínicos e, se necessário, acompanhar a evolução histológica ao longo do tempo. Estudos futuros, com amostras maiores e avaliações de longo prazo, serão essenciais para esclarecer essa sobreposição histológica entre o transplante capilar e o líquen plano pilar.
Referência:
Alcântara AS, Donati A, Suárez MV, Pereira IJN, Valente NYS, Michalany NS, Horta de Lima Jr CL, Contin LA. Histopathological Findings of Uncomplicated Hair Transplant for Male Androgenetic Alopecia: Can Lichen Planopilaris Features Be Present? Skin Appendage Disord. 2020;6(4):224-228. doi: 10.1159/000508689.