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TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NOS CONSULTÓRIOS DE TRICOLOGIA

O atendimento de pacientes com questões psiquiátricas em qualquer área da saúde é crescente. Ansiedade e depressão tem incidência elevada na população geral e por si só já bastariam para discutirmos por horas a fio o quanto estes problemas podem incidir e impactar nos cabelos e couro cabeludo provocando queda capilar e dermatites. 
Somado a isto, algumas questões específicas acabam exigindo uma atenção maior para o estado psíquico do paciente, me permitindo refletir e aplicar conhecimentos que tenho buscado nas formações em psicossomática e psicologia desde 2011 para somar aos conhecimentos médicos.
Quatro casos, em especial, me chamaram muito a atenção nesses últimos meses e gostaria de dividir algumas informações sobre eles com os leitores deste blog. O primeiro é o de uma paciente com pseudoeflúvio psicogênico, um segundo caso é o de uma paciente com tricotenomania, o terceiro de uma paciente com uma variação da ilusão de parasitose relacionada ao couro cabeludo e o quarto o de um paciente com tricoteiromania.
Em sua grande maioria são casos pouco frequentes, mas que vale a pena citar para que os leitores do blog possam conhecê-los.
1- Pseudoeflúvio psicogênico é um diagnóstico dado a pacientes que cursam com uma queda de cabelo imaginária, uma vez que não se encontra na avaliação clínica nenhum sinal que comprove a presença do quadro. Atendi uma paciente há alguns meses com este quadro com uma duração de mais de duas décadas e experiências com vários colegas que sempre insistiram que ela procurasse ajuda psiquiátrica/psicológica, uma vez que nem do ponto de vista clínico nem do ponto de vista laboratorial havia sinais de que ela sofria de alguma patologia capilar. 
2- Tricotenomania é o nome dado à mania de cortar os cabelos de forma constante e como uma resposta a eventos estressantes. Um dos quadros que atendi era de uma paciente que passava por um grande processo depressivo e que cortou todos os cabelos do todo da cabeça com a tesoura, enquanto manteve com comprimento normal cabelos das demais regiões do couro cabeludo. Chegou à consulta dizendo que sofria de queda capilar, mas ao ser examinada apresentava linha de corte (realizada por lâmina ou tesoura), em todos os cabelos da área “acometida”. 
3- Ilusão de ferida cutânea, vou chamar assim o quadro da paciente que atendi que está certa de que o topo de sua cabeça apresenta uma ferida que não cicatriza há anos (seria um tipo de transtorno delirante). Ao examina-la esta lesão não existe, mas, por mais que eu tente, a cada nova consulta, mostrar a ela (via tricoscopia), que seu couro cabeludo é totalmente são, a paciente sempre reforça o fato de que a ferida, desde a consulta anterior, segue sem cicatrizar. Por isto, caracterizo este quadro como um transtorno delirante, uma vez que estes transtornos provocam uma incompatibilidade entre a crença do paciente e a realidade. Segundo a paciente, ela já esteve em vários médicos e nenhum deles foi capaz de “cicatrizar” a ferida que ela tem há anos. 
4- Tricoteiromania é um quadro pouco comum, mas que vi em um paciente do sexo masculino, que apresentava o quadro na região frontal do couro cabeludo. A fratura dos fios é causada pelo hábito de atritar uma região pilosa com as mãos, unhas ou mesmo algum objeto provocando o quadro. Os cabelos na área se quebram e, muitas vezes apresentam-se com suas hastes lesionadas longitudinalmente formando imagens diversas de pontas duplas, triplas ou até mesmo múltiplas.
Mais do que realmente ajudar o paciente do ponto de vista capilar, o olhar para estes quadros deve ser de uma atenção diferente. São pacientes que muitas vezes não percebem o quanto estão comprometidos do ponto de vista da parte psíquica. Necessitam mais do que uma prescrição médica, precisam ser tratados de forma séria e exigem do profissional uma sensibilidade muito grande no que diz respeito à compreensão de que seus quadros são atípicos. Sofrem com a perda de cabelos, mas, mais do que isto, sofrem de transtornos psiquiátricos. Muitas vezes não percebem a gravidade do que estão vivendo e cabe ao profissional ter o cuidado de ouvir, compreender e entender o tempo do paciente para uma indicação de cuidados que envolvam apoio psicológico e, em boa parte das vezes, medicação psiquiátrica para sair do quadro. 
Referências:
Eckert J. Diffuse hair loss and psychiatric disturbance. Acta Derm Venereol. 1975;55(2):147-9.
Trüeb R. The difficult Hair Loss Patient. 2015.
Basavaraj et al. Indian Journal of Psychiatry. 2010; 52(3): 270-275.
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