Siga-nos nas redes sociais!

Tricodínia: Quando o Couro Cabeludo Fala com Dor

Imagine sentir dor ao pentear o cabelo, uma sensação de queimação, coceira ou formigamento ao simples toque no couro cabeludo. Essa condição tem nome: tricodínia. Embora pouco conhecida do público geral, ela é mais comum do que se imagina, especialmente entre pessoas que já enfrentam algum tipo de queda capilar, como a alopecia androgenética ou o eflúvio telógeno. Este artigo explora, em linguagem acessível e com base científica, o que se sabe sobre esse enigmático desconforto capilar.

O Que é Tricodínia?

Tricodínia é definida como dor, desconforto ou parestesia (como queimação, formigamento ou coceira) no couro cabeludo, geralmente associada à queda de cabelo. Ao contrário do que muitos pensam, não há, necessariamente, uma lesão visível ou inflamação aparente na região. Muitas vezes, o couro cabeludo parece “normal” ao exame físico.

Apesar disso, o incômodo é real. Quem convive com tricodínia descreve a sensação como dor difusa ou localizada, que piora ao tocar, escovar ou prender os cabelos.

Leia mais sobre a Tricodínia AQUI

Frequência e Perfis de Risco

Estudos apontam que a tricodínia é mais comum em mulheres, especialmente aquelas com queixas de queda de cabelo. As taxas variam entre 20% a 33% em pacientes com eflúvio telógeno ou alopecia androgenética¹. Durante a pandemia de COVID-19, os casos aumentaram, possivelmente ligados ao estresse, à queda capilar induzida pelo vírus e ao aumento da sensibilização do sistema nervoso².

Leia sobre como a falta de sono pode causar dor no couro cabeludo

Por Que a Tricodínia Acontece?

A ciência ainda está decifrando as causas exatas da tricodínia. Mas várias hipóteses já foram propostas:

1. Inflamação e Neuropeptídios

A substância P, um neuropeptídeo liberado pelas terminações nervosas, está diretamente envolvida na sensação de dor e na inflamação neurogênica. Em pacientes com tricodínia, foram detectados níveis aumentados de substância P ao redor dos vasos do couro cabeludo³ ⁴.

2. Sensibilização Neural

Pacientes com tricodínia apresentam maior sensibilidade a estímulos leves, como o toque, caracterizando o que se chama de alodinia. Essa resposta exagerada pode ter origem em mecanismos periféricos (no próprio couro cabeludo) ou centrais (no sistema nervoso central).

3. Fatores Psicológicos

A ansiedade, depressão e transtornos obsessivo-compulsivos estão comumente presentes em pessoas com tricodínia. Um estudo mostrou que 76% dos pacientes com essa condição apresentavam algum tipo de comorbidade psicológica⁵.

4. Deficiências Nutricionais

Baixos níveis de ferro (ferritina), vitamina B12, folato, zinco e vitamina D têm sido associados a sintomas neuropáticos semelhantes à tricodínia, embora as evidências ainda sejam consideradas preliminares¹.

Saiba porque a Tricodínia está cada vez mais frequente AQUI

Tricodínia e Queda de Cabelo: Qual é a Relação?

A tricodínia frequentemente acompanha quadros de queda capilar, como:

  • Telógeno Efúluvio: queda difusa dos fios, geralmente induzida por estresse, doenças ou alterações hormonais.
  • Alopecia Androgenética: queda de padrão hereditário, com afinamento progressivo dos fios.

Embora a relação exata ainda esteja em estudo, acredita-se que tanto o estresse emocional pela queda quanto a inflamação perifolicular contribuam para os sintomas de dor⁵.

Diagnóstico

O diagnóstico da tricodínia é essencialmente clínico, baseado nos sintomas relatados pelo paciente. É importante descartar doenças dermatológicas do couro cabeludo, como dermatite seborréica, psoríase ou infecções fúngicas.

Exames laboratoriais (como dosagem de ferro, vitaminas, hormônios da tireoide) podem ajudar na identificação de causas secundárias. Em alguns casos, o exame de tricoscopia também pode ser útil para avaliar o estado dos folículos e vasos sanguíneos.

Como Tratar a Tricodínia?

Ainda não existe um tratamento universal e altamente eficaz. Mas várias abordagens têm mostrado alívio dos sintomas. Sempre consulte um profissional médico antes de iniciar qualquer forma de tratamento:

1. Fitoterapia e Suplementos

L-cistina, vitamina D, zinco e B12 podem ajudar na função neurológica e na saúde capilar.

2. Cosméticos Calmantes

Produtos com capsaicina (derivado da pimenta), mentol ou canabinoides têm efeito analgésico no local.

3. Tratamento Psicológico

Psicoterapia e, quando indicado, o uso de antidepressivos de baixa dose (como amitriptilina ou venlafaxina) podem ajudar na sensação dolorosa e no bem-estar geral.

4. Terapias Complementares

Meditação, acupuntura e aromaterapia têm ganhado espaço como coadjuvantes no controle da dor e do estresse.

Mais sobre causas e cuidados quando à Tricodínia AQUI

Convivendo com Tricodínia

Viver com dor no couro cabeludo afeta a autoestima, o convívio social e o bem-estar geral. Reconhecer a tricodínia como uma condição real é o primeiro passo para buscar soluções. Não ignore a dor; ela pode ser um alerta de que seu corpo precisa de atenção.

Falar com um dermatologista ou tricologista é essencial para traçar um plano de cuidado personalizado.

Conclusão

A tricodínia não é apenas um sintoma passageiro ou “coisa da sua cabeça”. Ela tem base fisiológica, psicológica e, muitas vezes, multifatorial. É um sinal de que algo precisa ser olhado com mais cuidado. A ciência ainda caminha na compreensão total do problema, mas as alternativas de cuidado já existem e estão ao seu alcance.

Se você sente desconforto ao mexer nos cabelos, procure ajuda. Seu couro cabeludo pode estar pedindo socorro.

Referências:

  1. Mysore V, Singh S. Trichodynia: An Update on Definition, Etiopathogenesis, Diagnosis, and Treatment. J Skin Stem Cell. 2022;9(4):e127658. doi:10.5812/jssc-127658
  2. Narang T, et al. Telogen Effluvium and Trichodynia in Different Severity Groups of Post COVID-19 Patients. JNGMC. 2022;20(1):22–6.
  3. Hill B, et al. Indications for Peripheral and Central Sensitization in Patients With Chronic Scalp Pain – Trichodynia. Clin J Pain. 2013;29(1):95–9.
  4. Villani AP, et al. Tissue and Serum Levels of Substance P in Patients with Trichodynia. Skin Appendage Disord. 2023;9(1):12–7.
  5. Rebora A. The Presence of Trichodynia in Patients with Telogen Effluvium and Androgenetic Alopecia. Int J Dermatol. 2003;42(9):691–4.
+ Mais posts