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TRICOLOGIA E O PRINCÍPIO DO EFEITO COLATERAL

É interessante perceber como uma ciência pode ter em seus principais medicamentos uma origem pautada nos efeitos colaterais de alguns fármacos. Não entendeu? Vou explicar:

Não existe medicamento que tenha nascido exclusivamente para tratar os cabelos. Todos aqueles que utilizamos na tricologia vieram de outras áreas. E não apenas vieram de outras áreas como o crescimento capilar foi um efeito colateral deles.

Para que o leitor possa entender o conceito de efeito colateral, vou citar aqui um trecho de um livro de nome Fundamentos da Farmacologia de autoria de Ringo Star Fernandes Guimarães e Clarice Cunha Taveira:

Efeito colateral tem um conceito um pouco mais abrangente que a reação adversa a medicamentos; ele se refere a qualquer efeito apresentado pelo fármaco diferente do efeito principal a ele referido. Esse efeito pode ser benéfico, neutro ou maléfico. Alguns autores podem chamá-lo também de efeito secundário do medicamento.

Vou seguir exemplificando nosso texto com o primeiro medicamento aprovado para uso no tratamento da queda capilar, o Minoxidil. Um ativo cuja atividade hipotensora (o Minoxidil é utilizado no tratamento da hipertensão arterial), foi descoberta em 1965. Ou seja, se você já ouviu falar no Minoxidil ou já usou Minoxidil em algum momento da sua vida saiba que ele foi utilizado inicialmente para o tratamento da pressão alta. Porém o uso oral deste fármaco causava hipertricose (aumento de pelos no corpo e rosto), e o seu uso foi sendo deixado de lado para o tratamento da hipertensão. Por outro lado o Minoxidil ganhou um novo contexto quando lançado para uso tópico, na forma de solução capilar, para o tratamento da queda de cabelos na década de 1980. Voltaremos a falar do Minoxidil antes deste texto terminar.

Uma outra medicação muito famosa na tricologia é a Finasterida. Lançada no final da década de 80 para o tratamento de tumores benignos de próstata, a Finasterida, cujo papel é inibir uma enzima que converte o hormônio Testosterona em seu derivado Dihidrotestosterona (DHT) chegou ao mercado para tratamento capilar em 1997/98. O mesmo hormônio que induz o tumor benigno de próstata também induz a calvície, e, pacientes que passaram a tomar Finasterida para a próstata tiveram melhora de seus quadros de calvície.

Uma outra medicação da mesma família e com a mesma função, a Dutasterida, tem sido utilizada por conta do mesmo mecanismo de ação da Finasterida. Há um crescente número de estudos sobre a Dutasterida e sua indicação principal e inicial também foi para o tratamento da próstata.

A Espironolactona é um outro anti-hipertensivo que pode ser utilizado para a queda de cabelos androgenética feminina. Ela atua reduzindo a produção de andrógenos no organismo feminino e vem sendo estudada para esta indicação há bastante tempo. E este mecanismo justifica seu uso na calvície feminina que tem participação de hormônios masculinos em sua fisiopatologia. Interessante perceber que este fármaco, sintetizado em 1957 e que passou a ser comercializado em 1961, atua como anti-hipertensivo por conta de promover aumento da diurese, ou seja é um diurético.

Vocês devem ter percebido que das quatro medicações mais estudadas e citadas na literatura para o tratamento da queda capilar, nenhuma delas foi desenvolvida com foco nos cabelos. Todas vieram para a área capilar por conta dos efeitos capilares que causaram, no caso, aumentar o crescimento capilar.

Recentemente o Minoxidil para seu uso oral foi repensado estudado e alocado na tricologia, porém em doses mais baixas. O propósito é uma boa promoção do crescimento dos cabelos e um menor risco de aumento dos pelos em rosto e corpo (o que, para algumas pessoas não é possível pois há mulheres que mesmo com dosagens baixas desenvolvem uma hipertricose muito intensa e esteticamente desconfortável).

As conclusões e reflexões mais importantes deste texto, e para onde quero conduzir os leitores, é:

1- Não existe, até o momento, medicação que tenha sido criada exclusivamente para o tratamento dos cabelos

2- Todas elas tiveram como efeito colateral, positivo em alguns casos e negativo em outros, a observação clínica de que promoviam aumento dos cabelos e, no caso do Minoxidil, aumento dos pelos faciais ou corporais.

3- Assim como seus usos podem causar efeitos colaterais capilares, há o risco de outros efeitos colaterais em diferentes órgãos ou sistemas de nosso corpo descritos na literatura. E isto não torna essas medicações seguras se não foram exclusivamente prescritas por profissionais médicos.

4- Saliento ainda que a automedicação é uma atitude irresponsável e de elevado risco para qualquer pessoa quando em uso de qualquer medicação e não deve ser praticada.

5- Um profissional médico capacitado saberá eleger o melhor tratamento medicamentoso para cada caso, inclusive, agregando a estes tratamentos orientações em parceria com outros profissionais de saúde que também façam parte da equipe multidisciplinar de tricologia.

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