Há um certo exagero na comemoração sobre os resultados de algumas publicações científicas. Lembro de, em 2013, estar no Congresso Internacional de Tricologia em Buenos Aires no mesmo período que uma publicação científica falando sobre um novo meio de cultura para células tronco de folículos pilosos causava um alvoroço gigante na mídia. Me recordo de que a Dra Angela Christiano, atualmente na Columbia University era uma das pesquisadoras e muitas reportagenss e entrevistas com ela foram divulgadas.
Publicações assim sempre são importantes quanto ao que podem vir a contribuir com o meio científico para os cuidados com os cabelos, mas, passados pouco mais de cinco anos dessa publicação, absolutamente nada temos de novo que tenha se desdobrado dessa pesquisa e que tenha realmente chegado às clínicas especializadas em dermatologia e cuidados capilares. Quem sabe apenas mais uma peça dentre tantas de um complexo quebra cabeça chamado biologia do folículo piloso. Quem sabe os pesquisadores estejam evoluindo neste projeto e possam trazer novos conhecimentos para a área no futuro.
De lá para cá inúmeras outras pesquisas chegaram à mídia. Muitas com um alarde de definitivas. A cura da calvície havia sido desnudada pelos pesquisadores, dando a sensação àqueles que tinham contato com a informação de que no dia seguinte esta cura estaria à disposição de todo mundo que perde cabelos. Balela!
Em fevereiro de 2017 um estudo foi publicado no periódico médico PLOS Genetics. Tratava da descoberta de mais de 200 loci genéticos associados à calvície masculina. Os dados foram obtidos através de informações do UK Biobank, um banco de dados com informações genéticas. No estudo, os genes de 52.000 indivíduos foram utilizados. Para quem algum dia pensou que a calvície fosse igual à genética mendeliana (Mendel era aquele cara sobre o qual estudamos no colégio que descreveu os genes de ervilhas, de onde aprendemos a ideia de autossomia dominante e recessiva), reconhecer mais de 200 áreas nos nossos genes que podem participar do surgimento da calvície é algo absurdamente incrível. Por conta disso houve uma outra grande explosão de publicações midiáticas afirmando que a chegada da cura da calvície estava a nossas portas. Me desculpe. Se antes dos mais de 200 genes já era difícil encontrar uma cura para a calvície, imagino agora com tanto conhecimento acrescido após esta pesquisa e que precisa ser explorado para a melhor compreensão da calvície masculina.
É natural que toda nova descoberta ajuda, soma, deixa o entendimento do problema mais claro e pode, naturalmente, dirigir outros estudos quanto a novas possibilidades de tratamento de um problema de saúde. Mas, como diriam os mais velhos, vamos devagar com o andor que o santo é de barro. Entre os resultados de pesquisas como essas e a descoberta de novos tratamentos há um longo chão a ser percorrido.
Após o último 17 de Janeiro percebi um burburinho nas redes sociais sobre um artigo do Australasian Journal of Dermatology quanto à descoberta de uma mutação genética que estava associada a casos de Alopecia Fibrosante Frontal familiar. Me parece claro que o termo familiar usado no título do artigo não generaliza a mutação a todas as pessoas que desenvolvem esta alopecia, mais um motivo para não nos precipitarmos nas conclusões sobre esta doença descrita há tão pouco tempo (1994), e que ainda é uma grande incógnita para a grande maioria dos pesquisadores. Apesar de ser uma descoberta importante, que pode inclusive se desdobrar em outros conhecimentos sobre a própria Alopecia Fibrosante Frontal (AFF) não familiar, é importante toda e qualquer cautela e análise crítica de informações diante de achados científicos. Quando esse artigo foi publicado a sensação que tive ao ler comentários sobre o mesmo nas redes sociais é de que havia sido encontrado o Elo Perdido da AFF, o que não é verdade.
Recentemente, o médico canadense Jeff Donovan, também em suas redes sociais, fez uma crítica a esse tipo de comportamento. Nela, Donovan conclui que alvoroços desnecessários provocados por interpretações equivocadas de estudos científicos realizados em laboratórios acabam por promover um aumento da ansiedade e expectativa por parte dos que sofrem de perda de cabelos. Isso, por sua vez, atrapalha o trabalho de quem atua diretamente com esses pacientes. Suas expectativas aumentam numa proporção que a realidade dos tratamentos não atinge, resultando em frustração e descrença com quem está na linha direta de cuidados com quem sofre de queda capilar, no caso os profissionais.
Recentemente, o médico canadense Jeff Donovan, também em suas redes sociais, fez uma crítica a esse tipo de comportamento. Nela, Donovan conclui que alvoroços desnecessários provocados por interpretações equivocadas de estudos científicos realizados em laboratórios acabam por promover um aumento da ansiedade e expectativa por parte dos que sofrem de perda de cabelos. Isso, por sua vez, atrapalha o trabalho de quem atua diretamente com esses pacientes. Suas expectativas aumentam numa proporção que a realidade dos tratamentos não atinge, resultando em frustração e descrença com quem está na linha direta de cuidados com quem sofre de queda capilar, no caso os profissionais.
Concordo plenamente com o que o Dr Donovan afirma. Trabalhando há mais de 20 anos com perda capilar já ví muito milagre científico batendo à nossa porta que nunca chegou ao mercado. Já vi muito estudo realizado em laboratório merecedor de grande reconhecimento do meio científico não se desdobrar em solução alguma para os pacientes. Por isso, a cada congresso, a cada publicação e a cada alvoroço, antes de concluir qualquer coisa, antes de comemorar, eu, que trabalho atendendo pessoas afetadas pela queda de cabelo, leio a pesquisa, analiso os dados e chego a conclusões realistas que me vão permitir argumentar com alunos e pacientes que, por algum motivo, venham me questionar sobre a “cura da calvície da semana”.