A saúde da pele e dos cabelos é, cada vez mais, compreendida como resultado de uma complexa rede de influências metabólicas, imunológicas e ambientais. O exame conhecido como OligoSenso — realizado por meio da espectrofotometria de contato cutâneo — surge como uma ferramenta moderna e promissora para investigar desequilíbrios que não aparecem em exames laboratoriais convencionais, mas que influenciam diretamente na queda de cabelo, na sensibilidade do couro cabeludo e na falha de resultados terapêuticos.
Um estudo conduzido por Mocanu e Þiplica é um marco nesse contexto, ao utilizar a espectrofotometria cutânea para mapear os níveis de minerais e metais pesados em 77 pacientes com diversas doenças de pele, incluindo psoríase, alopecia areata, vitiligo e dermatites alérgicas crônicas. Com base em mais de 20 oligoelementos e 14 metais tóxicos analisados, foi possível identificar padrões comuns de carências e intoxicações crônicas que afetam diretamente a saúde capilar.
Carências Minerais: um solo estéril para a inflamação
Entre os elementos analisados, destaca-se a deficiência de magnésio — essencial para a produção de energia mitocondrial, controle da inflamação e manutenção da estrutura dos fios. Os níveis encontrados nos pacientes com psoríase (28,5) e com doenças autoimunes (25,8) ficaram muito abaixo do valor de referência considerado “adequado” (68,35).
Contudo, é importante explicar que esse valor de referência não foi obtido de um grupo controle do próprio estudo, nem é equivalente aos valores laboratoriais tradicionais (como exames de sangue). Trata-se de um valor calculado pelo próprio sistema OligoSenso, que utiliza algoritmos próprios baseados em espectros de luz refletida na pele e calibrados com bancos de dados internos. Esses bancos são formados por pessoas consideradas “saudáveis”, mas não sabemos com precisão quem são esses indivíduos: se possuem histórico clínico controlado, se foram avaliados por especialistas ou se fazem parte de uma população autodeclarada sem doenças.

Ademais, a concentração tecidual de minerais não se correlaciona automaticamente com os níveis circulantes (séricos), já que o corpo humano distribui e regula os minerais de forma compartimentalizada. Isso significa que um exame de sangue pode estar “normal” ao mesmo tempo em que o tecido cutâneo ou capilar apresenta uma carência funcional grave. Essa é uma das grandes vantagens do exame OligoSenso: ele avalia o que está acontecendo no tecido, onde de fato os cabelos crescem e onde as inflamações silenciosas se instalam.
Deficiências silenciosas e queda capilar persistente
Os pacientes que sofrem com queda capilar crônica, alopecias de padrão inflamatório, resistência a tratamentos convencionais ou sensibilidade no couro cabeludo podem estar diante de um terreno biológico desequilibrado. A falta de minerais como magnésio, silício e cromo, todos detectados em baixos níveis no estudo, compromete a produção de queratina, a integridade da membrana celular, o metabolismo energético e a regulação glicêmica tecidual — fatores fundamentais para um ambiente propício ao crescimento capilar.
Mesmo sem exposição ocupacional a metais pesados, o estudo revelou acúmulo tecidual de metais como alumínio, prata, chumbo, mercúrio e cádmio. Essas substâncias são sabidamente inflamatórias, afetam a sinalização celular, desorganizam o sistema imunológico e contribuem para alterações epigenéticas — um novo campo da medicina que investiga como os genes se expressam em ambientes tóxicos.
LEIA MAIS SOBRE INTOXICAÇÃO POR METAIS PESADOS AQUI
OligoSenso: uma ponte entre a clínica e o invisível
O grande diferencial do exame OligoSenso é sua capacidade de trazer à superfície o que não aparece em outros exames. Ele é rápido, indolor, feito diretamente na pele, e oferece um mapeamento detalhado dos minerais e metais presentes nos tecidos — com resultados entregues em formato digital, gráfico e interpretado pelo profissional.
Para pacientes que já passaram por vários tratamentos capilares, que convivem com queda persistente, inflamações do couro cabeludo ou falhas de resposta terapêutica, o OligoSenso representa uma virada de chave. Ao identificar carências minerais ocultas ou intoxicações crônicas, podemos ajustar com muito mais precisão os protocolos com suplementos, dietas, detoxificação e intervenções que respeitam o terreno biológico de cada pessoa.
Um novo olhar para os tratamentos capilares
A espectrofotometria cutânea propõe uma nova forma de pensar a tricologia: mais personalizada, mais integrativa, mais conectada com a realidade bioquímica de cada paciente. O exame OligoSenso não é um substituto para exames clássicos, mas sim um complemento essencial para quem busca resultados reais.
Se você sente que já tentou de tudo e ainda sofre com a queda de cabelo, inflamações ou tratamentos que não funcionam, talvez seja hora de olhar mais fundo. Não apenas para os seus sintomas, mas para o seu tecido.
O Tricologista Explica
O que é espectrofotometria de contato cutâneo — e por que seus valores não são iguais aos dos exames de sangue?
A espectrofotometria de contato cutâneo é uma tecnologia não invasiva que analisa a concentração tecidual estimada de minerais e metais pesados diretamente na pele. Ela funciona por meio da emissão e leitura da luz: o dispositivo emite comprimentos de onda específicos sobre a pele, e calcula, com base em quanto de luz é absorvida, transmitida ou refletida, a provável concentração de substâncias presentes nos tecidos.
Essa técnica é diferente de exames laboratoriais tradicionais como dosagem sanguínea, urinária ou capilar. Enquanto esses métodos avaliam o que está circulando no corpo ou sendo excretado, a espectrofotometria busca refletir o que está acumulado ou presente nos tecidos, especialmente no espaço intercelular.
Por isso:
- Os valores obtidos por espectrofotometria não são diretamente comparáveis aos de exames de sangue.
- Os valores de referência utilizados por aparelhos como o Oligoscan são definidos por algoritmos internos do próprio sistema, baseados em bancos de dados populacionais desenvolvidos pela empresa fabricante.
- Esses bancos, muitas vezes, não são públicos nem detalham claramente quem são os indivíduos “saudáveis” que servem de parâmetro.
Em termos práticos: um paciente pode ter níveis séricos normais de magnésio, mas ainda assim apresentar uma deficiência tecidual funcional que só aparece no exame espectrofotométrico. Isso se deve ao fato de que o sangue representa apenas cerca de 1% do total de magnésio do corpo, e o restante está armazenado em tecidos como músculos, ossos e pele.
Portanto, a espectrofotometria de contato cutâneo não substitui os exames convencionais — mas pode complementá-los, especialmente em investigações de intoxicação crônica, disfunções metabólicas sutis e quadros inflamatórios persistentes, como aqueles que afetam a saúde da pele e dos cabelos.
Referência
Mocanu LE, Þiplica G-S. Skin contact spectrophotometry in the study of imbalances of oligominerals and chronic tissue poisoning with heavy metals in skin diseases. DermatoVenerol. (Buc.). 2020;65(1):7-14.